Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa do Bispo
Referido na documentação dos séculos XI e XII como Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa, este cenóbio estava já ligado aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho em meados do século XII.
Segundo a tradição, a casa monacal foi fundada entre 990 e 1022, por D. Sisnando, bispo do Porto (entre 1049 e 1085) e irmão de D. Monio Viegas, no lugar onde terá decorrido a legendária batalha entre cristãos e muçulmanos, como refere a Crónica dos cónegos agostinianos.
Desde as suas origens que este Mosteiro se liga à linhagem dos Gascos de Ribadouro, família nobre que alcançou grande influência na época. Senhores de um grande número de mosteiros estrategicamente posicionados ao longo dos afluentes do Douro, em ambas as margens e nos percursos da Reconquista, estes senhores controlavam assim uma ampla área geográfica a norte e a sul desse rio.
Personalidades Históricas
D. Júlio Geraldes
D. Júlio Geraldes foi corregedor de D. Fernando (r. 1367-1383) no Entre-Douro-e-Minho, como ele próprio mandou registar no seu epitáfio que está no Mosteiro de Vila Boa do Bispo.
Terá nascido em Favões (Marco de canaveses), onde viveu e instituiu o Morgado de Casa Nova.
Era irmão de Nicolau Martins (prior do Mosteiro de Vila Boa do Bispo) e de D. Afonso Martins (abade do Mosteiro de Alpendorada).
Surge ainda referenciado como corregedor do Entre-Douro-e-Tejo, em 1365, e da Beira, em 1365-1366.
Moninho Viegas, o Gasco
Moninho (ou Mónio) Viegas comandou a armada dos Gascões que, em data mediada entre os finais do século X e inícios do XI, libertou a cidade do Porto da ocupação moura.
Acompanharam-no no seu empreendimento, os seus irmãos D. Nonego e D. Sesnando, que depois foram bispos do Porto. Também se deveu a Moninho Viegas a conquista da terra de Santa Maria da Feira ao Mouros.
Este casou com D. Valida Tracozendes, filha de Truycozendo Guedes, fundador do Mosteiro de Paço de Sousa.
Moninho Viegas, trisavô de Egas Moniz, o Aio, foi pai cinco filhos: Egas, Garcia, Gomes, Godo e Fromarico Moniz.
Este Gascão, que se encontra sepultado no Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa do Bispo, fundado segundo a tradição pelo seu irmão D. Sisnando, terá sido dos primeiros, com o auxílio dos seus irmãos, a dar início à restauração de Portugal contra os Mouros
D. Nicolau Martins
A atividade deste homem como prior do Mosteiro de Vila Boa do Bispo, da ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, está documentada entre 1316 a 1348.
Era irmão de D. Afonso Martins (abade do Mosteiro de Alpendorada) e de Júlio Geraldes (corregedor da comarca de Entre-Douro-e-Minho).
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Terá morrido no ano de 1348, como se pode constatar pela inscrição do seu túmulo e, segundo Mário Jorge Barroca, o seu falecimento deveu-se à peste negra, que grassava no reino nesta época.
Primeiramente foi sepultado em sepultura singela e só em 1362 o seu irmão Júlio Geraldes encomendou o seu cenotáfio, para onde foi transladado.
D. Pedro Rabaldis
As origens familiares do 18.º Bispo do Porto entroncam fora do reino português. A acreditar na sua origem franca, a sua linhagem terá vindo para a Península Ibérica com D. Raimundo (1080-1107) ou com D. Henrique de Borgonha (1066-1112), fixando-se em Coimbra.
Presente no território coimbrão, entre 1102 e 1117, temos um nobre de seu nome Rabaldo, que foi vigário do conde D. Henrique na cidade de Coimbra (1109) e detentor de poder na terra de Lafões ao tempo de D. Teresa (1117). Terá casado, possivelmente, com uma senhora da terra de Lafões de quem teve sete filhos, com apelido Rabaldes: Álvaro, Elvira, Maria, Pedro, Rabaldo, Teresa e Urraca.
À semelhança de outras linhagens coimbrãs, assinala-se a sua presença em importantes cargos militares ou administrativos, como Álvaro e Rabaldo Rabaldes que foram cavaleiros régios de D. Afonso Henriques.
A influência social e militar desta estirpe alargou-se, também, à vida religiosa com Pedro Rabaldes, cónego, pelo menos desde 1135, e bispo do Porto entre 1138 e 1145, tendo sucedido no governo da diocese a D. João Peculiar, seu tio, segundo nos informa o Catálogo dos Bispos do Porto.
Segundo as Inquirições de 1258, a Sé do Porto tinha 4 casais em Negrelos, dois deles doados por D. Pedro Rabaldes.
De mencionar que deve-se a ele a mais antiga referência a um selo episcopal, datada de junho de 1144, num documento lavrado que autenticava uma composição sobre a Ordem do Templo.
Ribadouro, Família
Os Ribadouro são considerados uma das famílias mais importantes do Tâmega e Sousa no período medieval. Para percebermos a importância desta família é importante mencionar o parentesco destes antepassados com D. Sisnando, bispo do Porto, que, segundo a tradição, terá sido sepultado no Mosteiro de Vila Boa do Bispo, no Marco de Canaveses.
A documentação comprova a sua vontade em adquirir poderes através dos mosteiros da região, que haviam sido fundados por humildes monges ou por comunidades de homens livres, e dos quais se apropriaram com o objetivo de fortalecerem os seus poderes civis e militares.
Alguns mosteiros foram fundados pelos seus antepassados, como é o caso do Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, em Penafiel. De outro património religioso apoderam-se por doação dos próprios monges. Também pretenderam tornar-se patronos do Mosteiro de Soalhães, mas a comunidade, protegida por homens livres do lugar, não deixou que tal acontecesse.
Já em meados do século XII, Egas Moniz, o Aio de D. Afonso Henriques, juntamente com a sua segunda mulher, D. Teresa Afonso, fundou o Mosteiro de Tuías, também na margem esquerda do Tâmega.
Dotados de uma enorme capacidade de expansão, os Ribadouro interessaram-se pelo território a sul das margens do Douro. Aqui, um dos seus ramos aproxima-se do Mosteiro de Arouca. Alguns documentos atribuem a esta família a fundação do Mosteiro de Cárquere, no entanto, não será verdade. Já depois da morte de Egas Moniz, a sua viúva, D. Teresa Afonso, funda o Mosteiro de Salzedas.
Com esta rede de casas religiosas, que se localizam entre as margens do Sousa e das montanhas do Vouga até ao vale do Varosa, mas que tem a sua maior densidade entre Douro e Tâmega, era de esperar que as propriedades de domínio dos Ribadouro se situassem na mesma zona. Na verdade, os domínios de Egas Moniz, o Aio, transbordam desta área.
O senhor de Ribadouro terá tido inúmeras propriedades na serra de Montemuro, no concelho de Cinfães, nos declives do atual concelho de Resende, de Lamego e de Armamar, na vertente sul da serra de Montemuro, no concelho de Castro Daire, em Vila Nova de Paiva, na vertente leste da serra da Lapa ao descer para Moimenta da Beira, e em Sernancelhe, no vale do Távora.
As propriedades de Egas Moniz dispersaram-se devido às partilhas hereditárias. Os seus filhos deslocaram o centro da família para fora do Entre-Douro-Minho.
D. Sisnando
D. Sisnando, 15.º Bispo do Porto, governou a diocese entre os anos de 1049 a 1070. Era irmão de Moninho (ou Mónio) Viegas, o Gasco.
Como é referido no Catálogo dos Bispos do Porto, D. Sisnando aceitou ser prelado da cidade portuense com o propósito de “ajuntar nella as ovelhas de Christo, a quem a fúria dos Mouros africanos tinha espalhado por varias partes” e, ao mesmo tempo, conseguir o necessário para a governação da sua igreja.
Segundo a tradição, quando já se encontrava recolhido no Mosteiro de Vila Boa do Bispo, que tinha sido fundado por seu irmão, fora surpreendido pelos mouros quando rezava missa e depois enterrado pelos monges na Ermida do Salvador, nos arredores de Vila do Bispo.
Quando D. Pedro Rabaldes, bispo do Porto (entre 1138 e 1145), ouviu falar dos milagres que se operavam junto da sepultura de D. Sisnando, visitou-a em 1142 e, perante o estado lastimoso em que se encontrava, mandou transferir o corpo de D. Sisnando para a Igreja de Vila Boa, colocando-o num túmulo alto e embutido na parede à direita de quem entra no templo.
Lendas e Tradições
O Mosteiro do Bispo Sisnando
Segundo as crónicas, foi a sensivelmente a cerca de uma légua do atual Mosteiro que o bispo D. Sisnando, há algum tempo recolhido no Mosteiro de Santa Maria de Vila Boa, fundado por seu irmão, fora surpreendido pelos mouros numa ermida quando celebrava Missa.
Assassinado pelos infiéis, teria sido enterrado pelos monges do cenóbio debaixo do altar da capela em moimento de pedra.
Conforme nos narra frei Nicolau de Santa Maria e frei Timóteo dos Mártires, o bispo do Porto, D. Pedro Rabaldes, tendo ouvido falar dos milagres que se operavam junto da sepultura de D. Sisnando, visitou-a em 1142.
Perante o estado lastimoso da capela que encontrou, mandou transferir o corpo do bispo martirizado para Vila Boa. No entanto, foi graças às crónicas do século XVII que se começa a usar o epíteto de "do Bispo".